sábado, 27 de março de 2010

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Postado por Unknown

quinta-feira, 25 de março de 2010

Entrevista: Frota-Pessoa

Postado por Unknown

Ao ouvir Oswaldo Frota-Pessoa, 88 anos, um dos pioneiros da genética médica no Brasil, torna-se fácil entender porque suas qualidades de professor são festejadas por pesquisadores de várias gerações que estiveram entre seus alunos. Se na sala de aula ele se valia da narrativa deliciosa, multicolorida, cheia de graça e sempre entrecortada pelo riso aberto com que hoje ainda fala de sua trajetória de cientista e divulgador da ciência, então ouvi-lo, aprender com ele, era com certeza uma experiência atravessada pelo prazer. Fica fácil também concluir que os mais de 700 artigos de divulgação científica que publicou na imprensa brasileira entre as décadas de 1930 e 1950 foram certamente alimentados pela rara finura e inteligência de sua prosa.

Carioca, biólogo, médico, professor no curso secundário e superior, pesquisador ativo até os anos 1990, autor de 150 artigos de pesquisa e de muitos livros didáticos, Frota-Pessoa recebeu, entre outros, o Prêmio José Reis de Divulgação Científica de 1981-1982, o Prêmio Kalinga Internacional de Divulgação Científica da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1982 e o Prêmio Alfred Jurzikowyski, da Academia Nacional de Medicina, referente à pesquisa básica relevante para a Medicina, em 1989.

Frota-Pessoa, cuja lucidez e vigor driblam o largo tempo vivido, gastou duas tardes para falar longamente à revista Pesquisa FAPESP, sempre com excelente humor. Por razões editoriais, infelizmente, publicamos a seguir apenas os principais trechos de sua entrevista.

Eu queria que o senhor começasse contando de sua experiência em divulgação científica. Como foi? E em que ano começou?
— Deixei preparadas aqui para você as pastas com todos os meus artigos de divulgação científica, mais de 700. Vou lhe mostrar o primeiro que escrevi...

“Por que se parecem os filhos com os pais”. De cara o senhor já estava escrevendo para o grande público na revista Vamos Ler, do Rio... Era uma revista de circulação ampla?
— Era feito a Veja, hoje. Eu cismei que devia escrever para divulgação, então o que fiz? Escrevi esse artigo e aí fui procurar quem ia publicar. Visitei a sede da Vamos Ler, falei que tinha um artigo, perguntei se queriam publicar... Eles me acharam um cretino, né?, eu sem apresentação nenhuma... “Ah, deixe aí, e tal...”. Deixei. E foi publicado. O primeiro dos 700.

O senhor trabalhou para A Manhã, para um suplemento do Diário Carioca, e depois para o Jornal do Brasil também?
— Sim, muito.

Como foi sua formação até chegar à universidade?
— Eu tive um professor muito bom de ciências quando estava no ginásio e no começo do colegial, no Ginásio Arte e Instrução, no subúrbio do Rio. E esse professor nos levava para fazer excursão no mato, ver bichinhos, trazer para o laboratório para estudar... Isso no ginásio, antes do colegial.

O senhor tinha 12, 13, 14 anos.
— Exatamente. E eu fiz aliança com três colegas, tínhamos a mesma tendência para esse lado. Então, terminado o secundário, fui fazer medicina. E quando eu estava no primeiro ano de medicina, que eu estava fazendo porque não havia curso de história natural nem de biologia, medicina era o mais próximo, encontrei por acaso um desses rapazes, e ele disse “rapaz, você sabe? Estão abrindo uma nova universidade aqui e tem curso de biologia”. E eu digo “não é possível! Onde é? Vamos lá, vamos fazer”.

O senhor estava fazendo medicina em que faculdade?
— Na Nacional.

Que depois virou a Federal do Rio de Janeiro.
— É, exatamente. Era a única que tinha no Rio. Ficava na Praia Vermelha.

E o senhor terminou o curso de medicina?
— Terminei. Fiz os dois juntos. O colega que encontrei por acaso na Cinelândia e que veio com a notícia de que fundaram uma nova universidade era o Newton Dias dos Santos. Nós fomos lá ver e tinha o curso de história natural. Bom, esse curso nos empolgou, porque foi o Anísio Teixeira quem fundou. Ele é um mecenas do ensino no Brasil. Fantástico, o que ele fez. Depois que se destacou como um especialista da educação na Bahia e no próprio Rio, ele foi encarregado de fundar uma universidade no Rio, que era a capital do Brasil e não tinha uma faculdade de ciências. Então ele fez a Universidade do Distrito Federal. Mas isso não é nada, o importante é que ele tinha falado para os assessores “olha, nós vamos ter que escolher professores para todos os cursos dessa nova universidade, mas eu quero o seguinte: quero o melhor pesquisador na área. Pode não ter dado nunca uma aula, que eu escolho assim mesmo. Quero o indivíduo que sabe pesquisar”. Então os nossos professores foram escolhidos dessa maneira, compreende? Na primeira aula de botânica – naquele tempo, a classificação das plantas e dos animais é que era importante...

A taxonomia.
— Exatamente. Então nosso professor de botânica nunca tinha dado uma aula. Mas era botânico, tinha sido diretor da parte de botânica do Museu Nacional, tinha feito a marcha com o [Marechal Cândido] Rondon quando foram afixadas as fronteiras do Brasil, colhera planta no Brasil inteiro, enfim, já era um grande botânico. Alberto Sampaio, era o seu nome. Modestíssimo, uma jóia de pessoa. Na primeira aula, ele chegou na sala – éramos 18 alunos – e disse: “olha, eu sou o professor de botânica e estou pensando em como podemos organizar esse curso. Lembrei que aqui no Distrito Federal existem muitas famílias de plantas que são mal estudadas ainda. Por que vocês não se juntam em grupos de três ou quatro, cada um escolhe uma planta, uma família, e faz uma revisão da situação da sistemática dessa família de plantas no Distrito Federal?”. Então o negócio caiu no gosto, queríamos era lidar com o material, e não ficar ouvindo besteira de professor. Resultado: nesse mesmo dia, ele nos levou para dentro – a aula era no museu – para mostrar o herbário que tinha uma porção de salas com caixas metálicas. Nessas caixas estavam pastas com as plantas que tinham sido colhidas 10 anos, 50 anos atrás, por aqueles botânicos europeus que vinham, viajavam, colhiam plantas, classificavam e depositavam no Museu Nacional. Tínhamos uma riqueza material para estudar que nenhum estudante podia sonhar. E logo na semana seguinte estávamos saindo para o mato, indo lá em cima na região em que, dizia-se no herbário, foram colhidas tais plantas.

Qual a família que o senhor foi estudar?
— As saxifragáceas. É a família da hortênsia, aliás, européia. Mas na família existem gêneros brasileiros e esses é que tínhamos que estudar, porque eram os menos conhecidos, e fazer uma revisão. Resultado: ainda estudante, no terceiro ano, publiquei meu primeiro trabalho científico, que se chamou “As saxifragáceas na flora fluminense”.

Mais perguntas e respostas:

Revista: Pesquisa - FAPESP



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